01/02/2014

Associação de imagem à obra "Morreste-me", de José Luís Peixoto

Quando um mundo te leva a outro. Quando um pensamento te recorda outro. Quando uma fotografia te leva a um livro. Terá esta experiência um nome? Não sei, talvez num outro idioma, numa vivência diferente exista uma palavra que descreva este voo de ideias. Eu, chamo-lhe: Ligações Tranquilas.
Há ligações que são mais previsíveis, consideradas naturais, por exemplo, ouvir o nome de um conhecido liga-nos imediatamente à sua imagem ou ouvir a palavra “verão” e ligar imediatamente a férias. No entanto, mesmo essas ligações são difíceis de se explicar, é necessário conhecimentos científicos, lógica e paciência. Nutrientes que não fazem parte dos meus cereais. Assim, explicar uma ligação mais abstrata, neste caso, a ligação de uma imagem de um par de luvas de boxe gastas, à obra Morreste-me, de José Luís Peixoto, é (devido, sobretudo, aos meus cereais pouco nutritivos) uma tarefa quase irrealizável. Porém existe um “quase” e onde existe um “quase”, existe esperança.
A cor da fotografia corresponde com a cor do livro, com a cor da dor, da tristeza, do luto. Corresponde com a cor de um filho que perde um pai, de uma alma que recorda o falecido, de um espírito que procura o inexistente. A posição e condição das luvas remete para o fim de algo, talvez de uma carreira, de um jogo ou de um treino, transmitindo cansaço, transmitindo memórias, transmitindo vida. Um cansaço de lidar com a angústia, memórias de quando aquele par de meias ainda tinha duas meias, vida que contínua ainda que falte a sua vida. É, então, necessário aprender a lidar com a perda e seguir em frente, é o fim daquele iogurte, mas há mais no frigorífico, caso contrário, há na mercearia ou no supermercado, resta apenas erguer o corpo para o alcançar.
Em suma, este voo de ideias não tem comandante, logo é difícil ao passageiro explicar o destino que o avião tomou. 

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